Turismo infantil: 75% das famílias evitam parques, hotéis, restaurantes e atrações que não recebem bem as crianças
Da Redação

Foto: Divulgação: Canva
Uma pesquisa inédita realizada pela Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo (Setur-SP), em parceria com a plataforma de turismo infantil São Paulo para Crianças, trouxe à tona dados reveladores sobre como os parques de diversão, eventos, hotéis, restaurantes, museus e demais atrações turísticas tratam as crianças e suas famílias.
Para se ter ideia, 75% das famílias já desistiram de ir a algum destino por considerá-lo inadequado para crianças. Esse dado deixa claro que a forma como as atrações turísticas tratam o público infantil é um fator decisivo para as famílias na hora de escolher destinos para viajar e passear.
Esse dado reforça a importância, para o setor turístico, de enxergar as crianças como cidadãos com plenos direitos e necessidades específicas, e não como meros acompanhantes dos adultos.
Outro dado revelado pela sondagem que pode parecer chocante, mas para quem tem filhos pequenos já é mais do que conhecido, é a ausência de trocadores nos banheiros públicos, de atrações públicas e privadas:
Apenas 43% dos locais possuem trocadores nos banheiros.
“O mapeamento permitiu captar o sentimento das famílias, levantar as necessidades das crianças e coletar as boas práticas dos destinos turísticos paulistas”, afirma o secretário Roberto de Lucena, da Setur-SP.
SP: de turismo de negócios para o maior centro de diversões do Brasil
A transformação do perfil do turismo paulista tem sido notável. São Paulo, antes conhecido principalmente por suas feiras e eventos corporativos, se tornou um dos maiores polos de lazer do Brasil.
O lazer já é a motivação de quase metade (49%) dos turistas que viajam para o estado, que se destaca como o maior polo de lazer do país, com a maior oferta de parques temáticos da América Latina, inúmeras atrações de aventura, ecoturismo e uma rica oferta cultural e gastronômica.
Dados do IBGE (PNAD) revelam que uma a cada cinco viagens no país têm como destino o Estado de São Paulo, consolidando sua posição como o principal destino turístico do Brasil.
Com a crescente demanda por espaços inclusivos para crianças, o Estado de São Paulo tem se voltado cada vez mais para o turismo infantil. Mas, o que é receber bem as crianças quando se trata de turismo?
“Ser child-friendly vai além de oferecer uma mesinha com giz ou um tapetinho de EVA. É sobre ter estrutura, segurança e uma equipe treinada, mas, acima de tudo, uma cultura de empatia e respeito às crianças como cidadãs plenas”, ressalta Priscilla Negrão, editora chefe e fundadora da plataforma São Paulo para Crianças, um projeto premiado pela ONU, SPTuris e Google.
A plataforma São Paulo para Crianças é pioneira no turismo infantil no Brasil e, há dez anos, mapeia os principais pontos turísticos, parques, atrações e hospedagens que realmente acolhem as crianças e suas famílias. Seu trabalho promove a inclusão familiar e defende o respeito à infância, valorizando as crianças como cidadãs plenas. Entenda mais aqui.
A sondagem realizada pelo Centro de Inteligência da Economia do Turismo (CIET), em parceria com a Setur-SP, o São Paulo para Crianças, a Associação das Empresas de Parques de Diversão do Brasil (Adibra) e o Sistema Integrado de Parques e Atrações Turísticas (Sindepat) deve servir como um alerta ao trade turístico: é hora de aprimorar os serviços oferecidos às famílias com crianças.
“Se não for pelo respeito e pelo compromisso de bem atender as crianças, que seja pelo aspecto econômico: o público familiar é hoje o mais relevante para o turismo”, ressalta Priscilla Negrão, CEO da plataforma SP Crianças.
Quais atrações são mais frequentadas pelas famílias com crianças?
Mesmo com as falhas apontadas, as famílias ainda buscam opções de lazer para seus filhos. Os parques e praças públicas lideram a preferência, com 71% das famílias afirmando frequentar esses espaços. Restaurantes e similares vêm em segundo lugar, com 66%, seguidos por cinemas (56%), shoppings (49%) e fazendas ou zoológicos (30%).
Essa preferência por espaços públicos ou de baixo custo revela outra tendência: o fator econômico. A pesquisa mostrou que, além de segurança e infraestrutura, o preço é um dos critérios mais importantes para as famílias ao escolherem destinos turísticos.
As famílias paulistas tendem a priorizar espaços baratos ou gratuitos, com atividades interativas e educativas, que garantam segurança, permitindo que as crianças explorem o ambiente de forma livre, mesmo sem supervisão constante.
De acordo com a pesquisa, mais da metade das famílias (56%) realiza passeios com crianças pelo menos três vezes ao mês, geralmente acompanhadas por uma ou duas crianças, a maioria delas com menos de nove anos.
Estrutura para crianças ainda é limitada
Embora 72% dos empreendimentos tenham declarado estar preparados para receber crianças, apenas 36% oferecem programação adequada para diferentes faixas etárias.
Além disso, apenas 43% dos locais possuem trocadores nos banheiros, um recurso essencial para quem viaja com bebês e crianças pequenas.
Em relação à inclusão de crianças com necessidades especiais, os números também preocupam: 22% dos estabelecimentos afirmaram estar totalmente adaptados, enquanto 47% dizem estar parcialmente preparados. Isso indica que há um longo caminho a ser percorrido para garantir acessibilidade e inclusão total para todos os públicos.
Entre as razões mais mencionadas pelas famílias que optaram por não visitar determinados lugares, destacam-se a falta de atrativos infantis (31%) e a falta de segurança (24%). Esses dois fatores demonstram que, para o público familiar, não basta oferecer atrações tradicionais; é preciso investir em infraestrutura, equipe, atendimento e segurança específica para o público infantil.
“A falta de espaços adequados para crianças de diversas idades e de segurança nos estabelecimentos é uma queixa recorrente entre as famílias. Isso é um sinal claro de que os empreendimentos que desejam atrair mais esse público precisam ir além do básico”, afirma Priscilla Negrão, do SP Crianças.
Criança não entra: o movimento Childfree
Em um contexto global onde o movimento childfree (não aceitação de crianças em determinados ambientes) tem ganhado força, a inclusão infantil no turismo se torna cada vez mais urgente.
O movimento childfree (entenda aqui) defende a criação de espaços voltados exclusivamente para adultos, rejeitando a presença de crianças por diversas razões, como ruído ou comportamentos considerados inconvenientes. Entretanto, essa postura pode se tornar prejudicial para o desenvolvimento de uma sociedade mais inclusiva e pacífica.
Tornar o mundo mais inclusivo e respeitar as crianças pode parecer algo trivial para alguns, como se a luta fosse apenas por “espaços kids”. Mas falar de inclusão infantil vai muito além disso. Não se trata de criar áreas para “estacionar” ou “guardar” crianças.
Um lugar que respeita a infância não precisa de brinquedotecas ou cantinhos isolados; precisa de empatia e respeito. Precisa reconhecer que a criança é uma cidadã com os mesmos direitos de qualquer adulto — ou até mais, considerando que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) existe justamente para garantir esses direitos, já que as crianças, como parte mais vulnerável da sociedade, não podem lutar por si mesmas.
Mesmo assim, muitos acreditam ter o direito de pedir que uma família saia de um ambiente porque o choro ou até o riso de uma criança “incomoda”. O som da infância se tornou um incômodo para os adultos, e isso é um sintoma alarmante da nossa sociedade. Quantas vezes ouvimos: “Ah, não gosto de crianças, prefiro um lugar sem elas”? E sabe onde isso fica ainda mais evidente? Nos transportes. Ônibus, metrô, avião — qualquer mãe ou pai já sentiu o peso dos olhares ao embarcar com uma criança. Basta relembrar o caso recente da Buser vivido pela mamãe Daniele Junco e seu filho Lucas.
Priscilla Negrão, fundadora do São Paulo para Crianças, relata uma experiência marcante: “Uma vez, uma comissária de bordo me pediu para me trancar com minha bebê de seis meses no banheiro do avião porque o choro estava incomodando os passageiros. Quando eu questionei sobre os riscos, caso o avião passasse por turbulência, ela insistiu que eu deveria ficar lá.”
Esse tipo de atitude ilustra como a criança é invisível na nossa sociedade, vista não como uma pessoa, mas como uma extensão dos pais, sem direitos próprios. Essa desumanização da infância é perigosa. Ela abre espaço para a violência infantil, o tráfico de crianças e até a exploração do trabalho infantil.
Para muitos, a criança não é vista como um ser humano pleno, com direitos que devem ser respeitados, mas como um anexo dos pais. O respeito parece só vir depois dos 18 anos, quando “vira gente”, como muitos dizem. Por isso, é crucial tornar a criança visível socialmente, e o turismo pode ser uma excelente ferramenta para iniciar essa revolução.
Já notou como as pessoas aceitam, sem grandes questionamentos, uma placa dizendo “não aceitamos crianças” em hotéis ou restaurantes? Agora, imagine se essa placa dissesse “não aceitamos idosos”. A reação seria completamente diferente, não é? Mas a única diferença entre uma criança e um idoso são os anos de vida.
A inclusão das crianças no turismo vai muito além de oferecer entretenimento. É uma questão de respeito e reconhecimento. Ser child-friendly não é sobre ter brinquedos ou giz de cera; é sobre garantir segurança, acessibilidade e estrutura adequada. É criar ambientes onde as crianças possam se desenvolver, explorar e interagir com o mundo, enquanto são acolhidas como cidadãos plenos, com direitos que precisam ser respeitados.
O que é, afinal, turismo child-friendly?
Um turismo child-friendly vai além de oferecer brinquedos ou atividades superficiais. Ele envolve um conjunto de práticas pensadas para garantir que as crianças sejam acolhidas com respeito e dignidade. Para que uma atração turística seja verdadeiramente inclusiva, ela precisa oferecer, no mínimo:
- Segurança e acessibilidade: áreas cercadas, supervisão constante, sinalização clara e facilidades como trocadores, rampas de acesso e espaços seguros para brincadeiras.
- Atividades diversificadas para todas as idades: programações que envolvam tanto os pequenos quanto os pré-adolescentes, garantindo diversão e aprendizado em todos os momentos.
- Inclusão para crianças com necessidades especiais: brinquedos adaptados, acessibilidade universal e uma equipe preparada para lidar com diferentes tipos de necessidades.
- Ambientes acolhedores e humanizados: locais que proporcionem conforto e bem-estar para as crianças e suas famílias, onde a estrutura física e o atendimento humano sejam voltados para o respeito à infância.
O que pode ser feito para melhorar?
O estudo da Setur-SP, divulgado hoje, expõe desafios urgentes para o setor de turismo. Embora o público familiar seja um dos que mais movimenta o mercado, muitos estabelecimentos ainda estão longe de oferecer a infraestrutura e a segurança necessárias para atender a essas famílias.
A solução? Investir no treinamento das equipes, criar espaços lúdicos e seguros, oferecer atividades que engajem crianças de diferentes idades, e, acima de tudo, tornar as atrações verdadeiramente inclusivas. O público com necessidades especiais também precisa de atenção prioritária. Sem essa inclusão, qualquer discurso sobre respeito à infância é incompleto.
Essa pesquisa traz à tona uma realidade que as famílias conhecem bem: o turismo infantil precisa evoluir. A falta de estrutura adequada e segurança afasta muitas famílias, mas o caminho para a mudança é claro. O setor turístico agora tem em mãos a oportunidade de inovar, criar experiências inesquecíveis e realmente inclusivas para crianças e suas famílias.
Essa transformação não é apenas uma questão de atrair mais visitantes. É sobre fortalecer São Paulo como um dos principais destinos turísticos do Brasil para famílias. Empreendimentos que se comprometerem em ser kid-friendly vão não só aumentar seu público, mas também promover uma sociedade que valoriza a infância e respeita as crianças como cidadãs plenas.
O futuro do turismo está nas crianças. Destinos que querem prosperar precisam ser lugares onde parques, hotéis, restaurantes, museus, cinemas e todas as atrações acolham as crianças com empatia e respeito. Afinal, crianças que são bem-vindas hoje, serão adultos que escolherão esses destinos amanhã.
SP tem primeiro programa de turismo infantil do Brasil
A pesquisa inédita divulgada hoje é mais um passo dentro do SP Pra Crianças, o primeiro programa de turismo infantil do Brasil, lançado em outubro de 2023 pelo Governo do Estado de São Paulo. Desenvolvida pela Setur-SP, em parceria com a plataforma São Paulo para Crianças, a pesquisa tem o objetivo de mapear o turismo infantil no estado, ajudando a nortear políticas públicas e projetos que melhorem a experiência das crianças e suas famílias nos destinos turísticos paulistas. “O turismo infantil é uma prioridade para São Paulo”, afirma o secretário Roberto de Lucena.
O SP Pra Crianças é a maior iniciativa de fomento ao turismo familiar já implementada no estado, com foco na criação de ambientes inclusivos e acolhedores.
A ação conta com o apoio de entidades como a Adibra e o Sindepat, e se apoia em três pilares essenciais: a promoção de rotas turísticas amigáveis para crianças, unindo turismo e educação; a capacitação da mão de obra para tornar os destinos mais atraentes e seguros para o público infantil; e soluções tecnológicas, como o desenvolvimento de um passaporte de integração com atrativos públicos e privados, que inclui ofertas, combos e recomendações de restaurantes e meios de hospedagem.
Acompanhe o andamento do programa de turismo infantil de SP aqui.
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